Quinta-feira, 8 de março – O rico e o pobre lázaro (Lc 16,19-31)



A riqueza do pobre -  no momento que aqui nesta terra não possui outro que fadiga e sofrimento, o pobre, pela sua própria condição, está mais preparado do que o rico em contar unicamente em Deus.Por isto Lucas não fala que o rico da parábola é mal, nem que o pobre é bom. Saciado e cego pela segurança que lhe dão os seus bens, o rico não coloca em Deus a própria esperança e fica surdo aos apelos da sua palavra.


Naquele tempo, disse Jesus aos fariseus: 19“Havia um homem rico, que se vestia com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias. 20Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, estava no chão, à porta do rico. 21Ele queria matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico. E, além disso, vinham os cachorros lamber suas feridas. 22Quando o pobre morreu, os anjos levaram-no para junto de Abraão. Morreu também o rico e foi enterrado. 23Na região dos mortos, no meio dos tormentos, o rico levantou os olhos e viu de longe a Abraão, com Lázaro ao seu lado. 24Então gritou: ‘Pai Abraão, tem piedade de mim! Manda Lázaro molhar a ponta do dedo para me refrescar a língua, porque sofro muito nestas chamas’.25Mas Abraão respondeu: ‘Filho, lembra-te de que recebeste teus bens durante a vida e Lázaro, por sua vez, os males. Agora, porém, ele encontra aqui consolo e tu és atormentado. 26E, além disso, há grande abismo entre nós: por mais que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vós, e nem os daí poderiam atravessar até nós’.27O rico insistiu: ‘Pai, eu te suplico, manda Lázaro à casa de meu pai, 28porque eu tenho cinco irmãos. Manda preveni-los, para que não venham também eles para este lugar de tormento’. 29Mas Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os profetas, que os escutem!’30O rico insistiu: ‘Não, Pai Abraão, mas se um dos mortos for até eles, certamente vão se converter’. 31Mas Abraão lhe disse: ‘Se não escutam a Moisés, nem aos Profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos”’. 

Havia um homem rico, que se vestia com roupas finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos os dias

                Parece que há uma grade diferença entre o Antigo e o Novo Testamento na definição dos termos “riqueza” e “pobreza”. A pregação de Jesus inicia declarando “Felizes os pobres” (Mt 5,3). A história de Israel, pelo contrário, mostra com muitos exemplos como Deus abençoa o trabalho dos seus fiéis. Se tornam ricos, possuem rebanhos, campos férteis e com isto adquirem também a estima dos outros. Assim foi com Abraão (Gn 13,2), Isaac (Gn 26,12ss), Jacó (Gn 30,43). É verdade que Jacó perdeu tudo, mas foi para provar a sua fidelidade, e no final retornou a ser riquíssimo também ele.
                Em que coisa, então, difere o Antigo Testamento da mentalidade capitalista atual? Pela atitude religiosa. O homem se enriquece pelo trabalho, com o comércio, com o engano, com os roubos, mas a primeira e verdadeira origem de toda esta riqueza é a benção de Deus, sem a qual os esforços humanos ficam sem fruto. Se o dinheiro não serve para o bem levará somente à maldição.

O perigo da riqueza

                Portanto o bem estar, segundo a Escritura, é graça de Deus. Os dons que os homens trocam entre si servem para manifestar o afeto e a atenção recíproca. Os dons de Deus tem o mesmo objetivo, e nós devemos agradecê-lo por eles.
                Infelizmente acontece o contrário. O homem rico acredita de não ter necessidade de Deus porque possui tudo. Os bens do rico são o seu baluarte (Pr 10,15) uma torre na qual se sente seguro. O profeta Oséias repreende os seus contemporâneos: “A todos alimentei até ficarem satisfeitos. Saturados, encheram a cabeça de orgulho! E foi por isso que me abandonaram!” (Os 13,6). O esquecimento para com Deus é como a soberba, por isto São João usa a expressão: “a soberba e a riqueza” (1Jo 2,15ss). A soberba é sem dúvida  o pecado fundamental que conduz o homem à perdição.
                Então, à pergunta se a Bíblia é radicalmente contra a riqueza, a resposta é simples: o bem estar é vivido segundo o que realmente é: como graça que nos recorda Deus e o dever de usar tudo aquilo que possuímos somente para o bem.

Um pobre, chamado Lázaro, cheio de feridas, estava no chão, à porta do rico

                O perigo que comporta a riqueza é assim grande que muitos textos do Novo Testamento parecem condená-la sem apelação. “Mas, ai de vós, ricos, porque já tendes a vossa consolação!” (Lc 6,24). Também nesta frase se revela a contradição da riqueza. Não é um mal que o rico banqueteie lautamente; mas se na sua porta senta-se um mendigo que quer pelo menos pegar as migalhas que caem da sua mesa, e ninguém lhe dá, o rico é responsável da miséria do pobre.
                A pobreza não é um mal pior que exista. O próprio deus toma conta dos pobres, mas é terrível quando um homem é responsável pela pobreza de um outro. Nesta chave são compreendidas as encíclicas sociais dos papas. O seu escopo não é propor soluções definitivas aos contrastes da sociedade, mas despertar a consciência daqueles que devem resolver-lhes, porque tem esta responsabilidade.

Oração

Senhor, Deus de Abraão e de Jesus Cristo, tu sacia de bens os afamados e despede os ricos de mãos vazias. Faz de nós pobres de espírito e em verdade. Então nos tornaremos capazes de compreender as admoestações que nos dás nesta vida para nos conduzir à verdadeira felicidade na outra, onde tu vives e reinas pelos séculos dos séculos. Amém!

Fonte:
Messalino Quotidiano dell'Assemblea, EDB
Tomáš Špidlík, Il vangelo di ogni giorno, Tempo di Quaresima e pasqua, Lipa (Trad. livre)

 
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