Quarta-feira, 7 de março - Traído pelo seu povo (Mt 20,17-28)



O servo sofredor – Jesus vive a servir e a sofrer, como tinha pronunciado um outro grande profeta (cf. Is 53,12). O seu sacrifício leva à libertação a multidão chamada a constituir o seu reino. Mas neste reino ser grande significa fazer-se servo e participar dos sofrimentos do Filho do homem.

Naquele tempo, 17enquanto Jesus subia para Jerusalém, ele tomou os doze discípulos à parte e, durante a caminhada, disse-lhes: 18“Eis que estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos sumos sacerdotes e aos mestres da Lei. Eles o condenarão à morte, 19e o entregarão aos pagãos para zombarem dele, para flagelá-lo e crucificá-lo. Mas no terceiro dia ressuscitará”.20A mãe dos filhos de Zebedeu aproximou-se de Jesus com seus filhos e ajoelhou-se com a intenção de fazer um pedido. 21Jesus perguntou: “Que queres?” Ela respondeu: “Manda que estes meus dois filhos se sentem, no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda”. 22Jesus, então, respondeu-lhes: “Não sabeis o que estais pedindo. Por acaso podeis beber o cálice que eu vou beber?” Eles responderam: “Podemos”. 23Então Jesus lhes disse: “De fato, vós bebereis do meu cálice, mas não depende de mim conceder o lugar à minha direita ou à minha esquerda. Meu Pai é quem dará esses lugares àqueles para os quais ele os preparou”.24Quando os outros dez discípulos ouviram isso, ficaram irritados contra os dois irmãos.25Jesus, porém, chamou-os, e disse: “Vós sabeis que os chefes das nações têm poder sobre elas e os grandes as oprimem. 26Entre vós não deverá ser assim. Quem quiser tornar-se grande, torne-se vosso servidor; 27quem quiser ser o primeiro, seja vosso servo.28Pois, o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate em favor de muitos”. 


Eis que estamos subindo para Jerusalém

                “Todo rio não é Jordão e toda cidade não é Jerusalém” diziam os peregrinos medievais para justificar a cansativa e perigosa peregrinação á Palestina. Para os hebreus, Jerusalém era a cidade escolhida por Deus como morada, no templo sobre o monte Sião. Onde, senão nesta cidade, podia tomar posse do seu reino o prometido e esperado Messias, rei do século futuro?
                Jesus estava bem consciente de todas estas profecias. Para que se cumpram anuncia a sua partida para Jerusalém. Sobe, porque a cidade se encontra numa colina, mas sobe também simbolicamente porque justamente nesta cidade ele declarará: “Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra” (Mt 28,18). O caminho para Sião culminará na procissão triunfal, quando lhe cantarão “Hosana ao Filho de Davi” (Mt 21,9). Há somente uma coisa pouco clara em toda esta história: a maneira como tomará o poder. Jesus deverá ser condenado à morte e coroado de espinhos.
                Todos os mistérios de Deus são incompreensíveis, para penetra-los é necessária uma particular iluminação do Espírito Santo. Mas que terá o dom poderá dizer como São Paulo que não há “outra glória do que na cruz do Senhor Jesus Cristo, por meio do qual o mundo está crucificado para mim, como eu para o mundo” (Gl 6,14).

Será caçoado, flagelado e crucificado

                 Uma coisa é rir e outra é zombar. Se sorri de uma piada, de um jogo de palavras, de uma situação inesperada. Se zomba de quem, por exemplo, pretende cantar e tem uma péssima voz, ou quem quer governar sem aliados e sustentadores.
                São Paulo escreve a respeito da zombaria: “A pregação da cruz (de Cristo) é loucura para os que se perdem”. A zombaria é justificada até quando não se revelará uma nova realidade invisível a quem não é iluminado pelo Espírito Santo.
                Cristo toma posse do seu reino abandonado por todos, mas tem do seu lado Deus Pai, e é isto que constitui o seu maior poder no céu e na terra. É um conceito sempre válido. Um homem e Deus é já a maioria. Quem tem fé não teme o insucesso diante dos homens. Quem tem fé não se maravilha que a vida cristã, os seus princípios, as suas orações pareçam ridículas aos ateus. Esta zombaria é motivo de tristeza porque prova compaixão pela cegueira deles.

O Filho do Homem será entregue aos sumos sacerdotes e aos mestres da Lei

                Para compreender o mistério da cruz é necessária a luz do Espírito Santo. Na nossa experiência cotidiana a luz provém sempre de alguma fonte externa: do sol, da lâmpada, da vela. Os hebreus falavam de uma dupla luz: exterior e interior, isto é, a  capacidade de ver além das coisas, a “luz dos olhos”.
                Para conhecer Cristo os sumos sacerdotes e os doutores rabinos tinham a disposição a iluminação divina pelo externo, isto é, a Escritura, os ditos dos profetas, os símbolos da história de Israel. Mas não as compreendiam. Faltava a eles a “luz dos olhos”, ou seja, a capacidade de compreender a Escritura espiritualmente. Nisto consiste a tragédia do povo eleito. Recebeu a Lei como pedagogo e guia a Cristo, e justamente por causa da Lei os seus intérpretes mandaram Cristo à morte.
                O que fazer com a cegueira  interior? Um dito popular diz que nem mesmo com o sol do meio dia quem busca só o dinheiro consegue ver um mendigo. Quem busca só o poder não podia ver o reino de Deus, de um Messias que declarava “bem aventurados os pobres” (Mt 5,3).

Oração

Senhor, nosso Deus, a ambição e o desejo de grandeza nos tornam incapazes de seguir o exemplo do teu Filho que não veio para ser servido, mas para servir como o preço da sua vida. Dá-nos a graça e a força de beber também nós do cálice, hoje no sofrimento, mas amanhã na alegria do teu reino, nos séculos dos séculos. Amém!

Fonte:
Messalino Quotidiano dell'Assemblea, EDB
Tomáš Špidlík, Il vangelo di ogni giorno, Tempo di Quaresima e pasqua, Lipa (Trad. livre)

 
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