Sexta-feira, 24 de fevereiro – Dominar a gula (Mt 9,14-15)



O jejum cristão – Cristo chamou os seus discípulos para adorar a Deus em espírito e em verdade. Se o cristianismo, depois da partida de Jesus, retomou a pratica do jejum, o fez para manifestar a aparente ausência do seu fundador e o vazio que ele deixa no coração de todo autêntico cristão.

Naquele tempo, 14os discípulos de João aproximaram-se de Jesus e perguntaram: “Por que razão nós e os fariseus praticamos jejuns, mas os teus discípulos não?” 15Disse-lhes Jesus: “Por acaso, os amigos do noivo podem estar de luto enquanto o noivo está com eles? Dias virão em que o noivo será tirado do meio deles. Então, sim, eles jejuarão”. 

Nós e os fariseus praticamos jejuns

                Também os médicos dizem que comer muito faz mal á saúde. Talvez hoje eles são os únicos que se recordam do antigo conselho da Igreja: jejuar. Aos enfermos às vezes os médicos prescrevem dietas muito severas. Não se trata somente de controlar-se no comer, mas no beber, no fumar, na abstenção das drogas. Guloso é quem se deixa vencer pela avidez em todas as cosias, e que usa a criação de maneira insaciável.
                Para São João Clímaco a gula é “a hipocrisia do estomago que se lamenta de estar vazio mesmo quando está cheio até a borda”. Encher o estomago talvez nutre o corpo, mas também os instintos carnais. Estamos seguros de dominá-los?

São João e os seus discípulos jejuavam

                Para os autores espirituais, não conseguir se dominar no comer é sinal de uma vontade fraca. Simbolicamente se pode dizer que o guloso vende o direito de primogenitura no reino de Deus por um prato de lentilhas (Gn 25,29ss).
                O jejum para um cristão é a ocasião para testemunhar a força do espírito. Não é credível que alguém fale de vida espiritual e depois se deixe levar pela gula. Escreve ainda São João Clímaco: “Comer muito excita a sensualidade, jejuar estimula a castidade. Se acaricias um leão, pode acontecer que ele amanse, mas o corpo quanto mais lhe concedes, mas ele se torna um animal selvagem”.

Por acaso, os amigos do noivo podem estar de luto enquanto o noivo está com eles?

                A prescrição do jejum parece negar o direito de comer e o prazer da mesa. É um direito lícito. Estamos no mundo também para estarmos contentes e alegres com os amigos. O jejum em si não é uma virtude, mas um meio para alcançá-la, um treinamento no domínio de si mesmo. Um meio tem um valor relativo, serve enquanto conduz ao bem.
                Um staretz[1] russo que observava severamente os jejuns prescritos pelo mosteiro, numa noite foi surpreendido na sua cela comendo uma boa ceia com um irmão. Ninguém ousou repreendê-lo e ele mesmo explicou a sua conduta. O co-irmão tinha chegado triste e abatido de uma longa  viagem e, disse o staretz, “o amor é maior do que o jejum”.

Oração

Senhor Jesus, não obstante a boa notícia da tua Páscoa, nós sofremos porque não podemos ver-te. Aumenta em nós o desejo da tua presença para chegarmos um dia  a saborear a alegria das núpcias eternas no teu reino pelos séculos dos séculos. Amém!

Fonte:
Messalino Quotidiano dell'Assemblea, EDB
Tomáš Špidlík, Il vangelo di ogni giorno, Tempo di Quaresima e pasqua, Lipa (Trad. livre)


[1] Uma figura característica no monasticismo ortodoxo é o "ancião" ou "homem velho" (no grego, geron; no russo, staretz, no plural, startsi). O ancião é um monge de discernimento espiritual e sabedoria, a quem os outros - monges ou pessoas de fora - adotam como seu guia e diretor espiritual. Ele é às vezes um padre, mas freqüentemente um monge leigo; ele não recebe ordenação especial ou indicação para o trabalho de presbítero, mas é dirigido a ele pela inspiração direta do Espirito. O ancião vê de um modo prático e concreto qual é o desejo de Deus em relação a cada pessoa que vem consultá-lo: este é o dom especial do ancião ou carisma (n. d. Trad.)

 
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