O messias deverá sofrer – com a profissão de fé de Pedro se conclui uma etapa da formação dos discípulos, onde chegaram a crer que Jesus é o messias. Mas a educação deles à fé não terminou: agora é necessário que compreendam o caminho pelo qual Cristo deve passar para realizar o desígnio de Deus.
Naquele tempo, 27Jesus partiu com seus discípulos para os povoados de Cesareia de Filipe. No caminho perguntou aos discípulos: “Quem dizem os homens que eu sou?”28Eles responderam: “Alguns dizem que tu és João Batista; outros que és Elias; outros, ainda, que és um dos profetas”. 29Então ele perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro respondeu: “Tu és o Messias”.30Jesus proibiu-lhes severamente de falar a alguém a seu respeito. 31Em seguida, começou a ensiná-los, dizendo que o Filho do Homem devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, devia ser morto, e ressuscitar depois de três dias. 32Ele dizia isso abertamente.Então Pedro tomou Jesus à parte e começou a repreendê-lo. 33Jesus voltou-se, olhou para os discípulos e repreendeu a Pedro, dizendo: “Vai para longe de mim, Satanás!” Tu não pensas como Deus, e sim como os homens”.
Quem dizem os homens que eu sou?
Os positivistas do século XIX comparam a razão humana a uma máquina fotográfica. Se abre a lente e o mundo externo imprime a sua imagem na membrana do cérebro. Seria um mecanismo perfeito. Mas a psicologia moderna tem um parecer diferente e retoma o pensamento antigo: a consciência e os juízos interiores não são de nenhum modo mecânicos, mas formulados pela pessoa. São Tomás de Aquino diz que “o homem conhece e julga segundo como ele é”.
Escolhemos para nós o que nos convém, segundo o humor, o desejo ou a disposição. Qualquer impressão, mesmo a mais banal, é subjetiva. Cada um vê as coisas de maneira diferente. Isto vale também para as questões religiosas: cada um vê Cristo à sua maneira, mas somente quando Cristo aparece como ele é realmente, acontece a mudança, a conversão de vida.
Freqüentemente as pessoas temem mudar e preferem ter de Cristo a idéia que mais lhe convém.
João Batista
A pregação de João Batista nas margens do rio Jordão teve um enorme sucesso, explicável também psicologicamente. Os Hebreus viviam na expectativa de uma mudança e eis que chega um homem de Deus que anuncia a sua realização. É sempre bem-vindo quem profetiza o que se deseja. Com freqüência há nas pessoas um grande cansasso da situação presente; é impossível continuar assim e todos esperam algo de novo, uma mudança da sociedade, no governo e na economia. Mas ninguém recorda o que dizia João Batista: “Fazei penitencia!” (Mt 3,2), ou seja: mudai a vós mesmos! Acontece assim também hoje. As pessoas esperam por Cristo, pela Igreja, pela religião, uma mudança na sua vida, uma nova ordem no mundo, um novo e melhor governo, novas possibilidades econômicas. Ninguém pensa que a mudança deva começar dele próprio, do seu coração.
O verdadeiro cristianismo, pelo contrário, é cheio d eotimismo, e não espera que o mundo mude por si mesmo: crê que somos nós que podemos mudá-lo.
E vós, quem dizeis que eu sou?
Os ingleses possuem um ditado: “Uma mulher é aquilo que falam das outras mulheres”. Com humor ele expressa uma profunda experiência de vida, válida para todos. Cremos de julgar os outros de maneira objetiva, ao invés projetamos nos outros nós mesmos, os nossos desejos secretos, as nossas paixões. As pessoas sensuais vêem tudo sensualmente, os avarentos se vêem circundados por avarentos. Quem busca a Deus encontrá-lo-á nos outros, porque todos são a imagem de Deus e filhos do Pai.
Isto é ainda mais verdade no caso de quem julga Cristo e o seu Corpo místico, a Igreja. Temos uma visão correta da Igreja se nela buscamos o que é divino: então a relação com a Igreja nos santificará e nos dará a paz interior. O coração humano está inquieto até quando não repousa em Deus (Santo Agostinho).
Oração
Senhor Jesus, tu escandalizastes os discípulos revelando-lhes que a tua missão de messias haveria de ti conduzir à morte. Também nós ficamos escandalizados pelo mal e pelo sofrimento. Nas horas de dúvida, ajudai-nos a olhar-te, o inocente por excelência que sofreu um injusto calvário antes de chegar à aurora da ressurreição, onde desejas conduzir todas as pessoas pelos séculos dos séculos. Amém!
Fonte:
Messalino Quotidiano dell'Assemblea, EDB
Tomáš Špidlík, Il vangelo di ogni giorno, Tempo “per annum” 1, Lipa (Trad. livre)