A cura do paralisia espiritual - A cura, acompanhada do perdão, é sinal da salvação integral proporcionada pela graça e misericórdia do Senhor.
1Alguns dias depois, Jesus entrou de novo em Cafarnaum. Logo se espalhou a notícia de que ele estava em casa. 2E reuniram-se ali tantas pessoas, que já não havia lugar, nem mesmo diante da porta. E Jesus anunciava-lhes a Palavra. 3Trouxeram-lhe, então, um paralítico, carregado por quatro homens. 4Mas não conseguindo chegar até Jesus, por causa da multidão, abriram então o teto, bem em cima do lugar onde ele se encontrava. Por essa abertura desceram a cama em que o paralítico estava deitado. 5Quando viu a fé daqueles homens, Jesus disse ao paralítico: “Filho, os teus pecados estão perdoados”. 6Ora, alguns mestres da Lei, que estavam ali sentados, refletiam em seus corações:7“Como este homem pode falar assim? Ele está blasfemando; ninguém pode perdoar pecados, a não ser Deus”. 8Jesus percebeu logo o que eles estavam pensando em seu íntimo, e disse: “Por que pensais assim em vossos corações? 9O que é mais fácil: dizer ao paralítico: ‘Os teus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘Levanta-te, pega a tua cama e anda?’10Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem, na terra, poder de perdoar pecados, — disse ao paralítico: — 11eu te ordeno: levanta-te, pega tua cama e vai para tua casa!”12O paralítico então se levantou e, carregando a sua cama, saiu diante de todos. E ficaram todos admirados e louvavam a Deus, dizendo: “Nunca vimos uma coisa assim”.
Levanta e caminha!
“levanta e caminha!”. Assim foi dito a alguém que não conseguia fazê-lo em sentido moral. Algumas vezes não é fácil acreditar que Deus perdoe todos os pecados. Mesmo assim, é um artigo de fé que devemos crer. Quando se trata de casos desesperados, os moralistas nos ajudam com uma distinção. Existem duas coisas a evidenciar: o perdão da culpa e a cura da natureza corrupta do pecado. Quando vemos um bêbado, às vezes dizemos com tolerância: “Pobrezinho, não é culpa sua, não consegue mais se dominar. Precisa ter paciência com ele”.
A mentalidade de hoje é em geral propensa a ser tolerante com as fraquezas humanas. Reconhecemos os influxos da hereditariedade, do mau ambiente, dos hábitos adquiridos. Em tempos antigos os escritores cristãos eram mais severos, ou talvez, melhor dizendo, mais otimistas. A propósito destes casos escreve São João Crisostomo: “Basta querer! Não digas não podes. Diga sinceramente que não queres”. Também Santo Agostinho, que conhece a fraqueza humana ligada aos maus hábitos, se dava este argumento: “Estes e aqueles puderam se levantar, porque tu Agostinho não poderias?”. Deus quer salvar todas as pessoas, assim ajuda a todos aqueles que tem o propósito de agir bem. Colocou em pé um paralítico, por que hoje a sua ajuda deveria faltar?
Por isto os pedagogos cristãos sempre simpatizaram com aqueles que crêem na força da vontade humana. Mas hoje estes otimistas diminuem. Não conseguimos ser duros em defender os princípios e temos compaixão das fraquezas. E isto se manifesta em todos os setores da vida. Mas é um progresso?
Como Jesus Cristo se comportava? Qual era a sua atitude? Pelo evangelho notamos que ele não admitia nenhuma desculpa para aqueles que não tinham boa vontade em aceitar o reino de Deus e não pensavam de mudar os seus hábitos opostos ao seu ensinamento. Ao contrário, Jesus se mostra muito compreensivo com os fracos conscientes de se encontrarem na estrada errada, que sabiam de terem caído e tinham o desejo de se levantarem. E muitas vezes o próprio Jesus colocava-os em pé, milagrosamente.
Quais conclusões tiramos disto para hoje? Devemos agir de maneira semelhante. Não renegar os sadios princípios e crer na força da vontade humana de transformar a vida. Por outro lado, devemos ter compaixão da fraqueza. Talvez signifique que devemos ceder a ela? Jesus ajudava milagrosamente os fracos. Mas também nós temos a disposição um método milagroso: a oração. Recordamos a experiência de Agostinho com relação da própria fraqueza diante das seus maus hábitos. No entanto conseguiu se levantar. Foi efeito da sua vontade? Difícil dizê-lo. Tinha certamente uma boa vontade, mas por um certo tempo, não obstante ela, não conseguia. Mas depois fez a experiência de uma outra força, a força da oração, e da graçã divina obtida justamente por ela.
Os confessores encontram continuamente casos como este. Fiel à sua missão, a Igreja defende os princípios morais e a sua integridade. Por outro lado, entre os fiéis muitos cometem o pecado e se lamentam de não poderem mais observar a moral católica tradicional, porque não conseguem. Defendemos, por exemplo, a indissolubilidade do matrimonio, mas encontramos tantos divorciados. Ou quantas anomalias e perversidades no campo sexual defendidas sempre mais. Então se sente que a Igreja deveria dar um passo atrás e não defender mais a moral tradicional, que já não é mais observada. Milhões são aqueles que já não mais a observam e nem a consideram, mas continuam a freqüentar as igrejas e querem se aproximar normalmente dos sacramentos. O que fazer? Um tipo de pedido destes deve ser acolhido com prudência. O que muitas vezes fazem os políticos? Quando não conseguem mais fazer observar uma lei a trocam. Do mesmo modo se quer defender a tolerância dizendo que Jesus era compreensível com as fraquezas humanas. Mas todos estes raciocínios partem de pressupostos falsos. Em primeiro lugar, devemos repetir que a Igreja não recebeu nenhum poder de mudar as leis divinas. Nem mesmo Jesus se atribuía este poder: “Não penseis que vim abolir a Lei ou os profetas. Não vim para abolir, mas cumprir” (Mt 5,17).
Ele certamente tinha muita compaixão pelos fracos e procurava ajudá-los de todas as maneiras. Assim deve fazer também a Igreja. Mas todos os fracos que iam até Jesus reconheciam que estavam no caminho errado e pediam ajuda. Hoje infelizmente encontramos muitos querem da Igreja o seguro de não poderem mudar e de estarem numa boa relação com Deus. Querem escutar estas palavras: “Antes não se podia, mas hoje a Igreja cedeu”. Mas tal raciocínio não pode permitir nenhum guia espiritual. A Igreja é o grande remédio pelo qual Cristo continua a curar o coração enfermo da humanidade. O ideal, o principio expresso pela lei moral é imutável. Certamente que o cristão individualmente, de acordo com o seu guia espiritual, pode prever que o seu caminho para o ideal tenha etapas pedagógicas que levem em conta a realidade limitada e pesada da própria história pessoal e do seu ambiente. Mas a cura é o sentido de tudo. Por isto é necessário conhecer a sã condição da pessoa e junto saber conjugar com a situação do homem concreto no caminho da sua reabilitação.
Fonte:
Messalino Quotidiano dell'Assemblea, EDB
Tomáš Špidlík, Il vangelo delle feste, riflessioni sul vangelo domenicale e festivo, II, , Lipa (Trad. livre)