Jesus vem para abrir os corações – O que conta, não é admirar o prodígio realizado por Jesus, mas compreender o seu significado: o surdo-mudo representa o pecador fechado no próprio egoísmo; o Cristo lhe dá a graça de abrir-se à palavra de Deus e de transmiti-la aos outros.
Naquele tempo, 31Jesus saiu de novo da região de Tiro, passou por Sidônia e continuou até o mar da Galileia, atravessando a região da Decápole. 32Trouxeram então um homem surdo, que falava com dificuldade, e pediram que Jesus lhe impusesse a mão. 33Jesus afastou-se com o homem, para fora da multidão; em seguida, colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e com a saliva tocou a língua dele. 34Olhando para o céu, suspirou e disse: “Efatá!”, que quer dizer: “Abre-te!” 35Imediatamente seus ouvidos se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade. 36Jesus recomendou com insistência que não contassem a ninguém. Mas, quanto mais ele recomendava, mais eles divulgavam. 37Muito impressionados, diziam: “Ele tem feito bem todas as coisas: Aos surdos faz ouvir e aos mudos falar”.
A cura de um surdo mudo
Existem vários graus de surdez. Há a incapacidade física de escutar os sons,mas há também a surdez psicológica. Quem está concentrado no trabalho não escuta a sirene da porta, ignora o som do telefone chamando, o barulho do trânsito, as vozes do quarto ao lado. Uma tal concentração é um grande dom, mas pode ser também um defeito. Quem tem uma idéia fixa na cabeça, não dá ouvidos a razões; um rapaz loucamente enamorado é surdo às admoestações de quem quer precavê-lo, e não faz mais do que repetir as suas razões: num certo sentido já é também mudo, sabe falar somente da sua enamorada.
O amor e a paixão são sentimentos muito diferentes. O amor favorece a concentração numa particular pessoa, mas nunca fecha a porta da atenção para os outros. Pelo contrário, a paixão torna psicologicamente surdo e mudo. Funciona um pouco como um gravador quando se apaga o que se registrou precedentemente.
“Efatá!”, que quer dizer: “Abre-te!”
A paixão tem como conseqüência o mutismo: fecha-se, não confia em ninguém e não se confidencia com ninguém. Santo Inácio de Loyola compara o diabo tentador a um sedutor que quer enganar uma moça. Insiste para que ela não confidencie com ninguém e não fale com ninguém daquilo que ele propõe: caso contrário, qualquer pessoa prudente poderia dissuadi-la. Com este exemplo o santo ressalta a importância de uma experiência milenária: a necessidade da direção e do colóquio espiritual.
São Teodoro Estudita explica aos seus religiosos as grandes vantagens do silêncio, mas acrescenta: existe um silêncio incrivelmente daninho, o mutismo com o próprio confessor. Neste caso somente Cristo pode dizer: “Efatá, abre-te!”, ou seja, confessa as tuas inclinações, aquilo que te perturba, atrai ou repugna, porque já o fato de falar disso o aliviará do teu peso.
Sua língua se soltou
O homem pode estar atado mãos e pés, mas não se pode atar a língua.
Duas pessoas litigam e acabam por não se falarem mais. É uma situação penosa e certamente é justo aconselhar, pedir desculpas e de tentar a se saudarem novamente, Mas as vezes estes conselhos não tem sucesso. A língua parece atada, colada ao céu da boca. Quem pode soltar estes laços interiores? Somente o amor pode tocar o coração a fim de que as palavras tornem a fluir e restabelecer os contatos.
A paralisia da língua é um pecado recorrente na sociedade. Escolhemos as pessoas com quem falar e os outros, que não nos interessam, nem mesmo os vemos, nem os escutamos se eles tem necessidade de nós. Diante de nós mesmos nos justificamos dizendo que no fundo, ignorando-os, não fazemos a eles nada de mal.
Pelo contrário temos necessidade de sermos tocados por Cristo, para que se soltem os vínculos da língua que impedem as palavras de caridade.
Oração
Senhor, nosso Deus, muitas vezes somos surdos aos teus apelos e não abrimos a boca quando deveríamos testemunhar. Continua a abrir os nossos ouvidos e a soltar a nossa língua, para que nos tornemos capazes de proclamar as maravilhas que realizastes em Cristo Jesus, nosso Senhor. Amém!
Fonte:
Messalino Quotidiano dell'Assemblea, EDB
Tomáš Špidlík, Il vangelo di ogni giorno, Lipa (Trad. livre)