Domingo, 15 de janeiro - 2° DOMINGO DO TEMPO COMUM - B


Jo 1,35-42 
O cordeiro de Deus

Se diz que os primeiros missionários junto a uma população de esquimós tinham dificuldade em traduzir na língua local o texto “Eis o cordeiro de Deus”. Aquele povo na verdade nunca tinham visto um cordeiro e não tinha nenhuma palavra que indicasse este animal. Os missionários tinham usaram provisoriamente a tradução “Eis a foca de Deus”. Para este povo, este animal seria o símbolo da mansidão, como o é  a palavra cordeiro na nossa linguagem. Mas também entre os as crianças da cidade não vêem mais um cordeiro vivo, o conhecem somente pelos desenhos, pelas estatuetas, pelos relatos...
Na Bíblia, o cordeiro é uma figura que se encontra freqüentemente. Particularmente em quatro momentos: o cordeiro pascal nos preparativos para o êxodo dos hebreus do Egito (cf. Ex 12,1ss); o servo de YHWH comparado por Isaías a um cordeiro inocente conduzido ao matadouro (cf. Is 53,7); o cordeiro pascal durante a última ceia de Jesus (cf. Mt 26,17ss); e enfim o cordeiro celeste na visão do Apocalipse (cf. Ap 5,8s).
A partida dos israelitas do Egito começa com o rito do cordeiro (cf. Ex 12,3ss). A saída do Egito, o exodus, a passagem através do deserto até a terra prometida foi a maior experiência religiosa do Antigo testamento. É a imagem da nossa passagem dos pecados ao paraíso perdido.
Quanto êxodos se verificam na sociedade de hoje. O mundo está cheio de refugiados, de exilados, de expatriados para não morrerem de fome. Perderam tudo o que constituía a vida deles, também a própria língua. Um refugiado asiático trabalhava num posto de gasolina na Califórnia. Um inglês sabia dizer somente os números para pedir dinheiro da gasolina vendida. Estava contente te ter encontrado este trabalho, mas era terrível que a sua nova vida tivesse se reduzido a isto. Se na sua existência não entrar Deus, como poderá continuar o seu caminho? Os israelitas encontraram Deus na própria vida; por isto cada ano sacrificam na páscoa um cordeiro em recordação desta grande experiência que foi o êxodo da escravidão egípcia à liberdade do povo de Deus.
O significado atribuído ao cordeiro pascal é expresso muito claramente na profecia de Isaías sobre o servo de YHWH (cf. Is 52,13-53,12): “Eis que o meu servo procederá com prudência; será exaltado, e elevado, e mui sublime. É a profecia sobre a potencia e a glória do futuro Messias. Existem tantas no Antigo Testamento, mas esta é especial. Se mostra o caminho através do qual ele chegará ao seu sucesso. O profeta é consciente de dizer coisas que são absurdas: “Como ovelhas estávamos todos perdidos, cada qual ia em frente por seu caminho. Foi então que o SENHOR fez cair sobre ele o peso dos pecados de todos nós. Oprimido, ele se rebaixou, nem abriu a boca! Como cordeiro levado ao matadouro ou ovelha diante do tosquiador, ele ficou calado, sem abrir a boca”. (Is 53,6-7). Qual é a conclusão de tudo isto? Não será a destruição, mas pelos contrário, a vitória final do servo de Deus e de todos os povos pelos quais ele se sacrifica. É portanto uma explicita profecia sobre Cristo. A tradição cristã vê no rito hebraico do cordeiro pascal a prefiguração da morte e ressurreição de Jesus. Por isto o último profeta do Antigo Testamento, João Batista, aponta Jesus dizendo: “Eis o cordeiro de Deus”. E o próprio Jesus introduz a sua paixão com estas palavras: “Ardentemente desejei comer convosco esta ceia pascal, antes de padecer(Lc 22,15). Paulo diz: “Jogai fora o velho fermento, para que sejais uma massa nova, já que sois ázimos, sem fermento. De fato, nosso cordeiro pascal, Cristo, foi imolado. Assim, celebremos a festa, não com o velho fermento nem com o fermento da maldade ou da iniqüidade, mas com os pães ázimos da sinceridade e da verdade”. (1Cor 5,7-8). Os exegetas afirmam que, quando Paulo escreveu isto, se inspirou no rito pascal das comunidades cristãs.
Mas o “coroamento” destes textos escriturísticos sobre o simbolismo do cordeiro é a descrição poética do cordeiro celeste no Apocalipse: “Então, vi um Cordeiro. Estava no centro do trono e dos quatro Seres vivos, no meio dos Anciãos. Estava de pé, como que imolado. O Cordeiro tinha sete chifres e sete olhos, que são os sete Espíritos de Deus, enviados por toda a terra. Então o Cordeiro veio receber o livro, da mão direita daquele que está sentado no trono. Quando ele recebeu o livro, os quatro Seres vivos e os vinte e quatro Anciãos prostraram-se diante do Cordeiro. Todos tinham harpas e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos. E entoaram um cântico novo: ‘Tu és digno de receber o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste imolado, e com teu sangue adquiriste para Deus gente de toda tribo, língua, povo e nação. Deles fizeste para o nosso Deus um reino de sacerdotes. E eles reinarão sobre a terra’” (Ap 5,6-10).
Concluímos relevando que os textos bíblicos sobre o cordeiro são prefigurações de Cristo,mas também do dinamismo da vida cristã. A causa dos insucessos e das derrotas, o nosso caminho de vida aparece incompreensível, mas unida à sorte de Cristo, a nossa vida nos conduz à vitória definitiva. É uma mensagem nova, não fácil de acreditar, mas verdadeira.
                                                                                                                               Tomáš Špidlík

 
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