O primeiro "sinal" de Jesus - Ao invés de evitar as alegrias humanas, Jesus escolhe uma ceia de núpcias para revelar aos seus discípulos o poder e a bondade infinita que há nele: a hora da nova aliança, simbolizada por ests núpcias, é chegada; a água do Antigo Testamento cede lugar ao vinho dos novos tempos.
Naquele tempo, 1houve um casamento em Caná da Galileia. A mãe de Jesus estava presente. 2Também Jesus e seus discípulos tinham sido convidados para o casamento. 3Como o vinho veio a faltar, a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho”. 4Jesus respondeu-lhe: “Mulher, por que dizes isto a mim? Minha hora ainda não chegou”. 5Sua mãe disse aos que estavam servindo: “Fazei o que ele vos disser”. 6Estavam seis talhas de pedra colocadas aí para a purificação que os judeus costumam fazer. Em cada uma delas cabiam mais ou menos cem litros. 7Jesus disse aos que estavam servindo: “Enchei as talhas de água”. Encheram-nas até a boca. 8Jesus disse: “Agora tirai e levai ao mestre-sala”. E eles levaram. 9O mestre-sala experimentou a água, que se tinha transformado em vinho. Ele não sabia de onde vinha, mas os que estavam servindo sabiam, pois eram eles que tinham tirado a água. 10O mestre-sala chamou então o noivo e lhe disse: “Todo mundo serve primeiro o vinho melhor e, quando os convidados já estão embriagados, serve o vinho menos bom. Mas tu guardaste o vinho bom até agora!”11Este foi o início dos sinais de Jesus. Ele o realizou em Caná da Galileia e manifestou a sua glória, e seus discípulos creram nele.
A água mudada em vinho
Muitas vezes nos perguntamos por que Jesus começou a sua atividade pública com este milagre. E muitas vezes a resposta é sugerida pelos textos litúrgicos: a água é símbolo da humanidade, o vinho é símbolo da divindade. Deus se tornou homem afim de que o homem se tornasse divino e participasse da vida da Santíssima Trindade.
Um ateu buscou ridicularizar o milagre de Caná, dizendo que para realizá-lo não haveria necessidade da intervenção divina. Na natureza este “milagre” acontece continuamente: chove, a água penetra até as raízes das videiras e dos seus ramos brotam as uvas. A água transformada em vinho é um processo natural.
Esta objeção irônica nos faz refletir. Na natureza existem continuas mudanças. O organismo vivo absorve os elementos inferiores e os transforma em vida vegetal, animal e humana. Cristo veio para realizar de maneira definitiva cada ritmo natural. No início muda a água em vinho, no final mudará o vinho no seu sangue. E a vida daqueles que o recebem na santa comunhão, de humana se tornará divina.
A participação da Mãe de Deus no milagre
Caná é o único momento em que a Mãe participa do milagre. Não acontecerá mais, por isto deve haver um significado particular. O evangelho faz referência a muitos milagres de Jesus, a cura de doentes e também a ressurreição de mortos. Todos tem um objetivo pedagógico: convencer as pessoas que o Filho do homem é Deus, nascido sobre a terra para fazer dos homens habitantes do céu.
O Filho do homem é o filho de Maria, e talvez por isto o primeiro milagre o realiza pela intercessão dela. A recente mariologia ressalta que no Novo Testamento a Mãe de Deus é o exemplo da fé de Abraão: “como Abraão que teve fé em Deus, e isto lhe valeu ser declarado justo” (Gl 3,6), se torna “pai de todos os crentes”. No início do Novo Testamento Maria é bem aventurada porque acreditou (Lc 1,45). E no início da atividade apostólica de Cristo, Maria aparece como aquela que reforça a fé dos discípulos: “Fazei o que ele vos disser” (Jo 2,5).
Por isto recorremos à intercessão de Maria também na vida da Igreja e na nossa vida pessoal, no nosso encontro com Deus.
Mas tu guardaste o vinho bom até agora!
A frase mostra a típica esperteza do oriente médio. Um comerciante mostra um belo objeto, mas logo que o cliente se distrai lhe empacota uma ninharia de pouco valor. Aos hóspedes oferece o melhor vinho, mas quando estão saciados e talvez um pouco embriagados, lhes coloca no copo o vinho menos bom.
Na vida espiritual Deus se comporta ao oposto: as mais belas experiências espirituais acontecem no final, e não somente na eternidade, mas nesta vida. O comprovam todos aqueles que perseveraram e progrediram na vida espiritual. No inicio é dura porque precisa combater os velhos e maus hábitos. Santo Agostinho nos conta: “Os hábitos maus me deixavam chorando: queres deixar-me?”. Existe um provérbio que diz: Todo início é difícil”. Se faz eco o dito latino: dulcis in fundo (o melhor se encontra no final).
Santa Teresa d’Ávila durante a oração tinha visões místicas. Mas no início da vida religiosa não conseguia concentrar-se nem mesmo nas orações que lia. Batalhou muito e com o tempo descobriu a beleza do diálogo com Deus.
Tomáš Špidlík
Oração
Senhor Jesus, tu amaste as alegrias da nossa vida humana ao ponto de fornecer vinho para uma festa de casamento. Ajudai-nos a viver a realidade cotidiana descobrindo as simples alegrias que tu colocastes nela, e buscando sempre a tua glória. Tu, o esposo da Igreja, que serás a nossa alegria na eternidade. Amém.