O testemunho que Jesus rejeita – Jesus cura para salvar as pessoas, não para demonstrar o seu poder. Não quer assim saber do testemunho que os demônios são constrangidos a dar da sua força, ficando fechados e hostis ao seu amor que salva.
Naquele tempo, 7Jesus se retirou para a beira do mar, junto com seus discípulos. Muita gente da Galileia o seguia. 8E também muita gente da Judeia, de Jerusalém, da Idumeia, do outro lado do Jordão, dos territórios de Tiro e Sidônia, foi até Jesus, porque tinham ouvido falar de tudo o que ele fazia. 9Então Jesus pediu aos discípulos que lhe providenciassem uma barca, por causa da multidão, para que não o comprimisse.10Com efeito, Jesus tinha curado muitas pessoas, e todos os que sofriam de algum mal jogavam-se sobre ele para tocá-lo. 11Vendo Jesus, os espíritos maus caíam a seus pés, gritando: “Tu és o Filho de Deus!” 12Mas Jesus ordenava severamente para não dizerem quem ele era.
Muita gente, ouvindo falar de tudo o que ele fazia, foram até ele
Os sacerdotes freqüentemente discutem entre eles sobre a pregação ideal para as pessoas de hoje. Apercebe-se que muitos não compreendem o vocabulário religioso, e que precisaria adaptá-la à língua corrente. Durante uma destas discussões um sacerdote ancião tinha ficado calado, escutando o parecer de todos. No final disse somente: “As palavras, as pessoas podem compreender ou não, mas seja como for, não se acredita até quando não se vêem as obras”.
Também Jesus fala sempre das obras que devem confirmar a verdade das suas palavras (Jo 5,36). Diz o provérbio latino: “Longa é a estrada por meio dos ensinamentos, breve e eficaz por meio dos exemplos”. Quem não faz o que diz, torna vãs as suas palavras. Se as palavras divinas não são seguidas pelas obras, testemunham contra se mesmas. A palavra divina é forte e criadora e transforma quem a pronuncia.
Tinha curado muitas pessoas
Nos evangelhos sinóticos os vários capítulos estão estruturados segundo os discursos, e depois os milagres, que são, sobretudo, curas de enfermidades incuráveis. Não é uma escolha de estilo; há um motivo interior, dogmático. Na nossa mentalidade por um lado existem palavras e do outro obras, divididas e ao mesmo tempo unidas, para que ganhem vida umas das outra. Diante de Deus estas divisões não existem. A palavra de Deus é criadora, é já obra: “Deus disse e assim se fez” (Gn 1,3). Cristo fala com boca humana, mas as suas palavras são divinas, portanto, criadoras. Mas a sua eficácia está ligada a uma condição: o homem deve aceitá-las com um ato de livre vontade. Se o faz, as palavras o transformam e lhe restituem a saúde espiritual.
Afim de que este nexo palavras-obras resulte imediatamente visível, Jesus com as suas palavras restitui aos enfermos a saúde física.
Vendo Jesus, os espíritos maus caíam a seus pés, gritando: “Tu és o Filho de Deus!”
As religiões do Oriente Médio eram muito dualistas. Supunham a existência no mundo de duas forças que desde o início se combatiam: os deuses bons e os deuses malignos. O homem pode estar de um lado ou do outro e assim se torna bom ou mal. Feliz quem escolhe o bem, mesmo se deve estar sempre de sobreaviso diante da possibilidade da vingança do mal contra ele.
A Bíblia não é dualista, mesmo se fala de anjos bons e de espíritos impuros. Estes últimos não eram maus desde o início, se tornaram com o tempo. E os homens? Também eles podem escolher entre o bem e o mal, e quando escolhem o bem não devem mais temer nada, porque o mal tem medo deles. A palavra de Deus é forte, e quem a acolhe se torna um perigo para o mal.
Santa Teresa de Liseux tinha compreendido isto desde criança, quando pareceu-lhe de ter visto dois diabos que fugiam logo que a viam. Parece uma imagem infantil, mesmo assim expressa a verdade: a alma pura vence o mal.
Tomáš Špidlík
Oração
Senhor Jesus, o teu comportamento é um ensinamento para todos. Tu não te contentas de um amor feito somente de palavras. Toca também o nosso coração e abri-o a gestos concretos de amor e de serviço aos irmãos. Tu que vives e reinas pelos séculos dos séculos. Amém!