18 de janeiro – Quarta-feira – Cura de um homem da mão atrofiada (Mc 3,1-6)



O formalismo que mata – Jesus cura um homem e convida os presentes a compreender que assim fazendo ele é fiel ao espírito da lei do sábado. Mas os seus adversários  não querem ir para além da letra e se reúnem para decidir a sua condenação à morte.

Naquele tempo, 1Jesus entrou de novo na sinagoga. Havia ali um homem com a mão seca. 2Alguns o observavam para ver se haveria de curar em dia de sábado, para poderem acusá-lo. 3Jesus disse ao homem da mão seca: “Levanta-te e fica aqui no meio!” 4E perguntou-lhes: “É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?” Mas eles nada disseram. 5Jesus, então, olhou ao seu redor, cheio de ira e tristeza, porque eram duros de coração; e disse ao homem: “Estende a mão”. Ele a estendeu e a mão ficou curada. 6Ao saírem, os fariseus com os partidários de Herodes, imediatamente tramaram, contra Jesus, a maneira como haveriam de matá-lo.


“Havia um homem com a mão seca”

                A mão é um extraordinário milagre técnico, com as suas mil possibilidades de movimento, em colaboração e harmonia entre eles. Um homem sem o uso das mãos não pode fazer nada, porque a mão se identifica com o trabalho. O homem com a mão atrofiada não podia trabalhar. Temos o hábito de nos lamentar do trabalho, mas bem sabemos que sem o trabalho não somos plenamente pessoas. Na verdade, à vida pertence  a atividade. Mas toda atividade é trabalho? Também o jogo é uma atividade, enquanto que com o trabalho ganhamos através do sacrifício o que nos serve para viver.
                São João Crisóstomo perguntava-se se no paraíso também Adão trabalhava. Se deve responder que sim, porque  um homem não é homem sem o trabalho. Mas no paraíso o trabalho não era uma obrigação ou uma desagradável fadiga, Adão trabalhava para melhorar, para aperfeiçoar-se: na nossa mentalidade dizemos que se divertia, jogava. O trabalho ainda não tinha sido amaldiçoado por causa do pecado.
                Depois o trabalho se tornou uma obrigação, sem liberdade, uma violência e um perigo. Cristo que nos liberta do pecado, opera também a redenção do nosso trabalho da maldição, afim de que se torne novamente livre e alegre.

“Estende a mão”

                A incapacidade de trabalhar pode depender de um fator físico: uma mão fraturada ou paralizada. Mas pode depender de um motivo psicológico: a preguiça patológica, a depressão, uma vontade fraca. Na literatura mundial é bem evidente no romance de I. A. Gončaròv[1], “Oblomov”[2], um homem que nem mesmo o amor por uma mulher consegue tirá-lo do estado de preguiça em que vive, e que por preguiça acaba por desposar a patroa de casa que não ama, enquanto que a mulher que ama, Olga, se casa com um amigo seu. Do romance deriva o termo já muito difundido “oblomovismo”, para indicar a síndrome paralisante que impede toda ação, a incapacidade de levantar-se da cama de manhã, trabalhar, pegar a caneta para escrever uma carta, acabar o que se começou.
                Como se curam as pessoas afetadas por este problema? A experiência mostra que o mal está na raiz, e é o excesso de fantasia, a sensibilidade morbosa, os pensamentos tortuosos que pesam no coração e na mente,  e paralisam a ação.
                O coração e a mente são esvaziados, limpos. Os livros ascéticos aconselham de dirigir o pensamento a Deus desde o primeiro momento do dia, de oferecer-lhe o nosso trabalho e de pedir-lhe ajuda. Por exemplo, começando cada dia com a frase que a Igreja colocou no inicio da liturgia das horas, o salmo 70,2: “Senhor, vinde logo meu auxilio!

“a mão ficou curada”

                O marxismo colocava o trabalho em primeiro lugar, e queria que as pessoas trabalhassem com alegria, como num novo paraíso na terra. Porém os problemas começaram por causa do método usado para chegar a este objetivo. A experiência nos tem ensinado que para tornar agradável o trabalho não serve dedicá-lo ao Estado, à humanidade ou ao partido,mesmo se é verdade que não é bom trabalhar somente por dinheiro.
                Se, como diz São João Crisóstomo, Adão no paraíso trabalhava pela perfeição, o conceito é bem entendido. O homem não se melhora buscando melhorar o método de trabalho, mas com o amor. Trabalha com maior alegria e liberdade quem tem  consciência de trabalhar por alguém, que por sua vez trabalha para ele.
                Freqüentemente no trabalho há competição e concorrência, e cada um busca de ser melhor do que o outro. Ao invés o cristão, que cada dia trabalha para Deus, faz a experiência de Deus trabalha para ele. Então o trabalho não é um peso e adquire honra junto a Deus e junto às pessoas.
Tomáš Špidlík

Oração

Senhor, nosso Deus, não somos melhores do que os fariseus: se alguém vem perturbar os costumes do nosso grupo ou os nossos hábitos pessoais, logo somos tentados de afastá-lo. Ensina-nos a respeitar todos aqueles que trabalham para o bem do homem, mesmo se a sua ação deva perturbar os nossos esquemas, como aquela de Jesus quando passou em meio aos homens, Ele, o Cristo, teu Filho e nosso Senhor. Amém!




[1] Ivan Aleksàndrovič Gončaròv (1812-1891) é um dos principais romancistas russos do século XIX que descreveu a sociedade russa de maneira satírica e mordaz.
[2] Oblomov é também o nome dado ao herói do romance, é sinônimo de "inércia" na Rússia, muitas vezes visto como a última encarnação do homem supérfluo. Ele é um jovem e generoso nobre incapaz de tomar decisões importantes ou empreender quaisquer ações significativas. Ao longo da história ele passa a maior parte do tempo na cama ou no sofá - durante as primeiras 150 páginas do romance, Oblomov não consegue sair de sua cama. O livro foi considerado uma sátira à nobreza russa cuja função econômica e social era cada vez mais posta em cheque na Rússia em meados do século XIX.

 
Design by Free Wordpress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Templates