O significado das escolhas de Jesus – Ele escolhe um dos seus discípulos entre os publicanos e pecadores. Quer indicar com isto que todos os homens são pecadores e que ele veio para salvar quem reconhece de ter necessidade de salvação.
Naquele tempo, 13Jesus saiu de novo para a beira do mar. Toda a multidão ia a seu encontro, e Jesus os ensinava. 14Enquanto passava, Jesus viu Levi, o filho de Alfeu, sentado na coletoria de impostos, e disse-lhe: “Segue-me!” Levi se levantou e o seguiu.15E aconteceu que, estando à mesa na casa de Levi, muitos cobradores de impostos e pecadores também estavam à mesa com Jesus e seus discípulos. Com efeito, eram muitos os que o seguiam.16Alguns doutores da Lei, que eram fariseus, viram que Jesus estava comendo com pecadores e cobradores de impostos. Então eles perguntaram aos discípulos: “Por que ele come com os cobradores de impostos e pecadores?”17Tendo ouvido, Jesus respondeu-lhes: “Não são as pessoas sadias que precisam de médico, mas as doentes. Eu não vim para chamar justos, mas sim pecadores”.
Por que ele come com os cobradores de impostos e pecadores?
“Diz-me com quem andas e te direi quem tu és?” É um provérbio que de diferentes formas existe em todas as tradições culturais. Se pode interpretar de duas maneiras. O homem instintivamente vai em busca de pessoas que lhe assemelham, ou mesmo sofre influencia de pessoas diferentes dele mas, freqüentando-as, acaba por comportar-se como elas.
Era sobretudo por causa desta segunda possibilidade que a lei hebraica proibia todo contato entre os judeus e “pecadores”, ou seja, aqueles que não observavam as prescrições mosaicas. Se alguém o fazia não obstante a proibição, era considerado como um amigo que tinha ido embora, um pecador. E assim os fariseus julgavam a Jesus. Era um juízo baseado na sabedoria humana deles.
Mas não fazemos o mesmo juízo milhares de vezes na vida cotidiana? Quando pensamos bem de quem tem maus amigos? O juízo talvez não é errado segundo a sabedoria popular, mas é errado enquanto acreditamos que seja infalível. Cada homem na verdade é um mistério irrepetível e não se pode julgá-lo superficialmente, segundo critérios genéricos e redutivos.
Não são as pessoas sadias que precisam de médico, mas as doentes
As discussões medievais com os seguidores do reformador inglês John Wycliffe foram tormentadas e difíceis. Os wyclifianos partiam do pressuposto que, para ser esposa imaculada do Cordeiro, a Igreja deve ser santa (Ap 21,9). Eram bem conscientes que a Igreja tem o poder de perdoar e purificar os pecadores para que comecem uma vida nova, mas não conseguiam identificar o modo justo de comportar-se na prática. Diziam que antes de se tornar membro do corpo místico de Cristo, alguém devia se purificar. Ou mesmo, se já era membro da Igreja e cometeu um grave pecado, automaticamente podia ser excluído dela. O boêmio Jan Hus, diversamente da universidade de Praga, que se tinha pronunciado pela condenação, se manteve neutro com Wycliffe, mesmo se na sua obra transparecia uma certa influência wycliffiana. Foi acusado, entre outras coisas, por uma afirmação a propósito do Concílio de Constancia: “Se o papa ou o bispo ou um prelado estão em grave pecado não podem mais exercitar o seu cargo”.
A doutrina católica é contrária a este ensinamento, não por tolerância com o pecado, mas porque é consciente que o pecado não pode ser curado excluindo, mas somente incluindo. Nenhum doente pode ser afastado do hospital desde haja esperança de cura.
Eu não vim para chamar justos, mas sim pecadores
Os pecadores pertencem à igreja, mas vem a tentação de duvidar disso porque são muito numerosos. Se o organismo é minado por muitas doenças se perde a esperança de ser curado. Então buscamos provar que na Igreja existe mais bem do que mal e isto lhe dá a força de crescer e continuar a sua missão. Mas não se pode buscar uma prova matemática: entre os doze apóstolos havia um só traidor, entre doze justo um somente se torna pecador. São João Batista pregava a penitência e a todos batizava. Fazendo assim, ele ensina a atitude própria do Novo Testamento: todos são pecadores e todos tem necessidade de serem salvos, porque em todos existe tanta força de bem, capaz de vencer todo mal. Esta força não vem da própria pessoa: é um dom da graça, da vocação da Igreja. É um dom que transforma as capacidades humanas e dá a força de mesmo depois de uma queda no abismo. Jesus não abandona os pecadores, antes busca a companhia deles para que sejam novamente justos.
Tomáš Špidlík
Oração