O significado dos milagres – Jesus não rejeita o milagre ao leproso que o invoca com fé, mas não quer divulgar os seus prodígios para não suscitar uma esperança que não seja aquela da salvação que ele veio trazer, fundada sobre a conversão ao amor.
Naquele tempo, 40um leproso chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: “Se queres, tens o poder de curar-me”. 41Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: “Eu quero: fica curado!” 42No mesmo instante, a lepra desapareceu, e ele ficou curado.43Então Jesus o mandou logo embora, 44falando com firmeza: “Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles!”45Ele foi e começou a contar e a divulgar muito o fato. Por isso Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-lo.
Não contes nada disso a ninguém
Jesus adverte os seus de não fazer as boas obras diante dos homens para não receber como prêmio somente o elogio do mundo (Mt 6,1). Talvez é por isto que proíbe o leproso curado de divulgar o milagre: certo é que esta proibição não corresponde à mentalidade do nosso tempo. Hoje uma obra vale na medida que mais se fala dela, sobretudo os jornais ou a televisão. É também por isto que os católicos algumas vezes se lamentam: os meios de comunicação fazem publicidade de uma mínima coisa que fazem os não crentes, e as obras dos crentes talvez ninguém as conhece. Que os jornalistas católicos, dizem, divulguem todo o bem realizado pelos cristãos. Sim, isto é uma boa coisa, mas não se dar muito valor a isto.
Os antigos filósofos comparavam o elogio humano à sombra produzida por um homem que caminha sob o sol. A sombra é maior ou menor, segundo o movimento do sol. Se é maior ou menor, significa que a noite está próxima e que logo o sol desaparecerá. O homem sábio tem o cuidado assim de caminhar sobre o caminho certo, sem preocupar-se da sombra, que muda com o mudar da luz.
Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade, ficava fora, em lugares desertos
Num tempo como o nosso em que todos procuram visibilidade, porém se conhecem as desvantagem da publicidade. Quem se tornou famoso não tem mais um momento de paz e de privacidade, não pode mais caminhar na rua sem ser importunado. Um médico famoso deve ser assessorado por secretários para não ser acometido pela demanda.
Podemos imaginar como era difícil para Jesus atravessar um lugar habitado onde as pessoas eram muitas vezes invadentes e inoportunas. O evangelho narra que Jesus era assediado, as pessoas se amontoavam sobre ele e buscavam tocá-lo (Mt 9,20-21)
Mesmo assim a fuga de Jesus para a solidão do deserto não era um gesto de impaciência, mas uma indicação, um ensinamento a seguir. A solidão é um remédio que reforça a relação com Deus. Sem este medicamento ela se torna mais frágil e também as relações com os homens. A solidão, portanto, é um complemento necessário à vida de comunidade. É difícil dizer de quanta solidão cada um precisa ter; depende das disposições pessoais e da vocação de cada um. Mas o exemplo de Cristo nos ensina que nunca devemos esquecer o uso sábio deste “medicamento”.
E de toda parte vinham procurá-lo
Se a solidão é útil para rezar, o contato com os outros serve para realizar obras de caridade, de apostolado. Da solidão Jesus retornava novamente para estar entre as pessoas, percorrendo toda a palestina. Como Ele também os missionários partem para lugares distantes. Mas nem sempre é necessário partir para terras distantes para ser missionário. São João Maria Vianney era pároco de um longínqua vila francesa, porém era sempre assediado por uma multidão de gente que o procurava, porque “não pode ficar escondida uma cidade colocada sobre um monte” (Mt 5,14).
Quem está unido a Deus adquire uma espécie de atrativo. Um professor de teologia disse com altivez ao santo russo e simples monge Serafim de Sarov: “O que quer de você toda essa gente?” A resposta de Serafim foi eloqüente: “Amigo, obtém a paz e milhares de pessoas te procurarão!”
Os livros ensinam muitas coisas, as pregações edificam, mas a paz de Deus pode comunicá-la aos outros somente quem a possui no coração.
Tomáš Špidlík
Tomáš Špidlík
Oração
Senhor Jesus, tu querias deixar escondidas as curas que realizavas, mas eram totalmente prodigiosas que a sua fama se difundia em todos os lugares. Renova ainda hoje, por meio de nós, os sinais da tua misericórdia, de maneira que possamos difundir em nosso meio a boa nova do teu amor. Te pedimos, tu que nos amas com amor eterno e vives por todos os séculos. Amém